A BOLA – Sporting-Famalicão: a crónica (Liga)


Paulinho a Paulinho enche o leão o papo

Três jogos, três vitórias para o Sporting. Um jogo tão complicado foi resolvido com um lance tão simples. Irónico: Paulinho parece que precisava de uma estrela ao lado para poder brilhar

Diz o povo que grão a grão enche a galinha o papo, mas no caso do leão é mais Paulinho a Paulinho que o papo vai enchendo. Três jogos, três vitórias na Liga, nove pontos, liderança partilhada com o V. Guimarães (ainda falta jogar o FC Porto, esta segunda-feira) e quatro golos de Paulinho, outra vez decisivo e a dar corda à ironia: passou a brilhar quando o Sporting contratou uma estrela para o ataque, Gyokeres. Repito, aliás, o que já tive oportunidade de escrever: Gyokeres parece ter sido contratado como álibi perfeito para os crimes de Paulinho. Gyokeres joga e distrai, Paulinho marca e resolve. Os dois juntos somam os seis golos marcados pela equipa até ao momento.

E da vitória magra do Sporting sobre o Famalicão fica ainda o gordo paradoxo de uma partida tão complicada ter sido resolvida com lance tão simples de bola parada – note-se, numa falta ganha pela fúria sueca de Gyokeres, que desequilibra mesmo quando se desequilibra.

‘Famalição’ a defender
 

Quando dizemos que o jogo foi complicado, entenda-se que começou por haver muito mérito nisso por parte do Famalicão, mas redundaria em algum demérito do Sporting por não ter conseguido chegar ao 2-0 (sem esquecer as boas intervenções de Luiz Júnior e o azar de uma bola na barra).

Na primeira parte assistiu-se quase a uma lição defensiva do Famalicão, muito bem organizado, a não deixar o Sporting explorar a profundidade (sobretudo por Gyokeres) ou as trocas posicionais do trio da frente, montado numa defesa a cinco (Dobre baixava na direita e Aranda, do outro lado, juntava-se por dentro aos dois médios-centro, por vezes com apoio ainda de Gustavo Sá) e com desdobramento em 4x2x3x1 – mas aí, na hora de sair, e mesmo tentando fazê-lo de forma curta e apoiada, a formação de João Pedro Sousa foi sempre curta.

O tal «Brighton português», como o classificara Rúben Amorim na véspera, pelos jovens talentos de qualidade que tem sempre, nunca conseguiu ser um Arsenal ou Man. City a atacar (não teve sequer um remate perigoso à baliza em todo o encontro). Porque o Sporting não deixou, e aqui uma referência ao reforço Hjulmand, em estreia a titular e que deixou boas indicações. Não enche o campo mas enche o espaço que tem de encher e joga de cabeça levantada e à procura de combinações em zonas adiantadas, longe de ser apenas um destrutivo trinco à moda antiga.

A paciência é uma virtude
 

Perante a eficácia do Famalicão a fechar os caminhos da baliza, o Sporting soube ser paciente numa primeira fase, com mais de 70 por cento de posse de bola, incapaz de ferir mas sem dar hipóteses para ser ferido. Tudo com enorme intensidade de parte a parte.

E mesmo quando o público de Alvalade começou a enervar-se, ora com o central Otávio, ora com as decisões do árbitro André Narciso, os jogadores leoninos mantiveram a calma e seguiram a rota que haveria de conduzi-los à vitória. Porque, inevitavelmente, os espaços começaram a surgir, alguns ainda na primeira parte (Paulinho esteve muito perto de marcar aos 19’, recorde-se, e houve ataques estragados pelo último passe), mesmo que poucos, outros já na segunda, bem mais, sobretudo depois de Paulinho ter marcado, aos 52’ minutos.

À fase da paciência, premiada com esse golo (sem qualquer mexida ao intervalo nas duas equipas, refira-se), seguiu-se a tentativa de reação do Famalicão e a parte final foi de algum sofrimento para os leões, mesmo sem oportunidades claras para o adversário, que foi sendo refrescado pelo seu treinador ao longo da segunda parte, depois do golo leonino, e que foi ganhando maior tração à frente, assumindo, na fase final, o risco inerente a quem já nada tinha a perder – mas foi o Sporting que andou sempre mais perto do 2-0, suportado pelos seus adeptos, mais de 40 mil, lotação esgotada, que souberam estar ao lado da equipa na fase mais delicada, tal como Amorim pedira na véspera. É assim que se cria a dinâmica de vitória. O reforço Fresneda, na bancada, deve ter gostado do que viu.

É que, é bom lembrar, o Famalicão venceu em Braga na 1.ª jornada e ainda não tinha perdido na Liga, além de que nos anteriores nove jogos contra os minhotos o Sporting tinha perdido dois, tinha empatado três e tinha ganho quatro (e desses quatro, só um por mais de um golo). Ou seja, um adversário tradicionalmente complicado, mesmo para um Sporting em alta.

O árbitro – ANDRÉ NARCISO (nota 3)
Faltou-lhe coragem para expulsar Gyokeres ainda na primeira parte: se o avançado sueco viu o primeiro amarelo no lance com Otávio, aos 23’, tinha de ver o segundo por lance idêntico com Riccieli, aos 41’. Deixou-se levar pelo ambiente. Muito bem ao não assinalar penálti contra o Famalicão (73’) por alegada mão de Youssouf, só não se percebendo a razão de o VAR o ter aconselhado a ver as imagens, de tão óbvias.
 

Melhor em campo A BOLA – Paulinho (Sporting)





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