Países com regimes autocráticos estão na porta de entrada do Brics, o grupo de grandes emergentes formado hoje pelo Brasil, Rússia, India, China e Africa do Sul e peso crescente na geopolítica global.
Na reunião chamada de ‘retiro’ dos líderes do grupo, ontem a noite em Joanesburgo (África do Sul), foi fechada uma ‘lista curta’’ de cinco ou seis candidatos com mais chance de aderir ao Brics.
No total, a ‘short list’ inclui quatro países com regimes autoritários – Arabia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã e Egito.
Os outros são a Argentina e possivelmente a Indonésia. A dúvida sobre os indonésios é porque eles estão na presidência da Asean, a Associação das Nações do Sudeste Asiático, e podem querer aderir mais tarde.
Cada país apresentou sua própria lista de candidatos para entrar no grupo. Somente o presidente Lula não apareceu com lista completa, focando basicamente na defesa da entrada da Argentina dentro da lógica de equilíbrio regional.
Fontes no Brics argumentam que originalmente o fator de democracia nunca foi uma condição dentro do grupo. Basta ver a China, o peso pesado do grupo, e também a Rússia.
Para um grupo com princípios de democracia, o Brasil tem o Ibas, que forma com a India e África do Sul, conforme o argumento utilizado.
Um relatório do Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, calcula que 72% da população mundial – 5,7 bilhões de pessoas – viviam em autocracias em 2022.
China, Arabia Saudita e Irã estão na lista das autocracias mais duras. O Egito não fica atrás. Uma questão é no que o Irã vai ajudar no grupo no contexto atual. Já da Arábia Saudita, a expectativa é de se tornar também membro do Banco do Brics entrando com alguns bilhões de dólares.
Os novos membros, se confirmados, vão evidentemente reforçar a China.
O presidente do Egito, Abdel-Fattah al-Sissi (à esq.), e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, poderão se reencontrar no Brics — Foto: valor
A balança global de poder econômico está mudando. Um crescente número de autocracias agora representa 46% do Produto Interno Bruto (PIB) global, conforme o relatório do instituto sueco.
A balança de poder no comércio também vai na direção de autocracias. A parte das democracias no comércio mundial declinou de 74% em 1998 para 47% em 2022.
As autocracias estão se tornando menos e menos dependentes de democracias tanto para suas exportações como importações. Já a dependência de países democráticos em relação a autocracias dobrou em 30 anos.
No ‘retiro’ dos líderes, ontem à noite, o presidente Lula deixou claro que o Brasil não tinha problema com os países candidatos, segundo fontes. Mas que gostaria de ver avanços na linguagem do grupo sobre temas como reforma das Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A ideia é efetivamente de que sejam publicadas diretrizes para os países candidatos. E o documento deverá incorporar temas defendidos pela diplomacia brasileira e que poderão ajudar gradualmente no seu pleito para o Conselho de Segurança.
Isso não significa, porém, que a China, bastante reticente à ampliação do Conselho de Segurança, vai mudar agora sua posição e apoiar a demanda brasileira, ressalvam fontes com conhecimento da questão.
Além disso, os avanços na linguagem sobre o tema de reforma na ONU virão nas diretrizes e não no comunicado dos líderes.