A comunidade internacional não pode esquecer o Camboja


Eu e dezenas de outros opositores políticos exilados ilustramos os resultados daqueles que optam por participar na interpretação cada vez mais soviética da democracia do Camboja. O meu antigo partido, o Partido da Salvação Nacional do Camboja, obteve mais de 43% dos votos nas eleições de 2013, 2015 e 2017, apesar da corrupção aberta e da interferência de Hun Sen e do seu governo. A nossa presença, bem como a crescente concorrência ao governo em exercício, seria saudável em qualquer outro país democrático. No entanto, para Hun Sen, representávamos um risco demasiado grande – e, tal como outros partidos na sombria história do meu país, fomos dissolvidos por alegadamente orquestrarmos um “golpe estrangeiro” contra o governo. Desta vez, um destino semelhante coube ao Candlelight, um novo partido da oposição, que estava em vias de derrotar o PPC de Sen até à sua abrupta suspensão, em maio de 2023. Foram impedidos de apresentar candidatos porque “apresentaram um documento fotocopiado em vez de uma cópia original”, como parte da sua constituição, tendo os seus membros e ativistas sido subsequentemente visados e detidos pelas forças governamentais.

Ainda assim, mesmo neste contexto, a oposição pacífica encontrou uma forma de se manifestar. As contagens nacionais revelam que mais de meio milhão de cambojanos apresentaram um voto nulo, apesar das ameaças de multas ou de detenção. Este número representa um em cada dezoito votos expressos nas eleições e, juntamente com o nascimento consistente de novas forças da oposição, sugere que a vontade de uma alternativa democrática ao PPC não será refreada, independentemente da corrupção e da intimidação por parte do governo. Também evidencia, sem dúvida e mais do que nunca, a necessidade de a comunidade internacional – e, em particular, os líderes democráticos do Ocidente – chamar a atenção para os abusos deste governo e de intervir perante Hun Sen e o seu filho, Hun Manet.

Ainda que isso aconteça, teme-se que o processo seja tardio. É que, como parte do plano de sucessão em curso, já estamos a assistir a uma solidificação da elite cambojana em destacadas posições de influência. Para além da transferência elementar do cargo de primeiro-ministro para Hun Manet, que decorrerá no final deste verão, muitos ministérios estão agora a ser preenchidos com filhos de partidários leais, lamentavelmente inexperientes, que continuarão o legado dos seus pais. Esta triste realidade foi já evidenciada pela nomeação de Say Sam Al como ministro do Ambiente – uma figura que, apesar de ter mostrado algum interesse inicial na cooperação com jovens ambientalistas, rapidamente cedeu à tradição governamental de deter e prender aqueles que procuram defender o mundo natural.



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